De todos os lados me soam frases de amor, em todas as direcções e sentidos, atingindo-se talvez , umas às outras por serem tão dispersas, tão parecidas, tão irrisórias.
Houve uma altura em que o amor era recatado, em que se sonhava em amar, em que se demorava anos para amar, e houve momentos em que havia realmente emoções antes de se namorar. O dizer não, o dizer sim, em suma toda uma decisão acertada, que levava moças envergonhadas a pensar nos sentimentos escondidos, a sonhar com o futuro, que levava homens à adrenalina de não saber o que esperar.
O verdadeiro sentimento, o verdadeiro sorriso, a dor da separação, os suspiros sem cessar, o olhar abrilhantado, o desespero do atraso. . . tudo isso se apagou com o tempo.
Hoje, vejo no escuro de uma esquina, os beijos desafogados, sem recato, sem paixão. Uma espera reduzida a minutos de uma presa sozinha, à procura do amor do momento. Os toques sem sentido por todo um corpo dado à facilidade de uma parede suja, cheia de letras vistosas, de sorrisos que ninguém sente, das palavras que ninguém pensa.
As mãos suadas, misturadas com o cheiro do tabaco, o perfume barato, o gel do cabelo, o sorriso forçado, as palavras infelizes e falsas que brotam de lábios que se repugnam, que se odeiam, que não se valorizam, marcam todo o conceito de amor, deste século.
Um conceito de amor de esquina.