Adoro passar a minha tarde de folga sentada numa explanada a queimar os meus pulmões de óculos de sol e com um ice tea de manga. Quando não se passa nada, pego no jornal de noticias e leio a essência económica que ele nos apresenta, a politica, os assaltos, as intervenções da ASAE… O fim do mundo portanto.
Depois de todas os textos espampanantes de indiferença no fundo mundial, acabo sempre por acompanhar alguns casos da vida real, passados exactamente a um palmo de testa.
Uma mulher, um homem. Ela nos trinta, ele nos quarenta. Advogada, defende causas portanto. Ele juiz. Sentam-se na mesa do lado, pedem dois cafés. Ela acende um cigarro, ele ordena para ela não fumar. Ela não liga, continua. E durante os quinze minutos seguintes, tudo o que se ouve são buzinas de carros, motores de motas e os saltos das senhoras que passam apressadas.
Será isto um casamento? Quinze minutos de puro silêncio?
Ele pede-me o jornal e ela olha-o com o desespero de quem tal algo a dizer.
“Deveria querer lê-lo e ficou reticente” pensei eu.
“João?”
“Espera um pouco…” respondeu ele.
E para minha surpresa, ela retirou a aliança do dedo, e pô-la em cima da mesa.
“Não posso… pois toda a minha vida se tornará uma espera.”
Levantou-se subtilmente, e de uma forma deslizante e ascendente, caminhou até eu a deixar de ver.
A reacção dele?
Virou a página de Jornal, e continuou a ler.